A OVELHA DESGARRADA
Em uma fazenda não tão distante, havia um cercado repleto de ovelhas, não apenas brancas, mas de todas as cores, todas nasceram e cresceram no lá. Entre elas, sempre conversavam do quanto aquele lugar era necessário para eles, dava proteção, água, comida, enfim, uma segurança, estavam em um espaço de certezas. Fora da fazenda, havia uma ovelha que saiu do cercado ainda era cordeiro e não mais retornou. Em um espaço sem predadores naturais e com água e comida abundante, do alto das colinas conseguia enxergar a fazenda como um todo, o espaço das ovelhas serem cuidadas, mas também onde eram abatidas após anos doando lã de seus corpos, isso fez com que a ovelha separada das demais compreendesse que ali estavam os únicos predadores dela. Na fazenda, muitas ovelhinhas obedientes avistavam a desgarrada e criavam lendas a seu respeito: uma ovelha fora do rebanho, uma ovelha do mundo, exposta a diversos perigos, talvez nem esteja mais viva, já caiu nas garras de algum lobo. Houve, inclusive, aquelas mais ousadas que tentaram mandar mensagens, através de seus amigos pássaros, para a parente afastada voltar ao cercadinho e ficar aos cuidados do pastor, homem cuidadoso e dedicado à felicidade do seu rebanho. Diferente do que aconteceu na caverna de Platão, a ovelha não cometeu a tolice de se aproximar do cercado e tentar avisar a respeito das maravilhas do mundo fora do cercado, seria capturada e morta após ganhar alguns quilos, até lá, talvez ridicularizada pelas ovelhas agarradas e não desgarradas. Por isso, ela foi desfrutar a consciência de sua liberdade, tão prazerosa quanto a das outras, mas com uma materialidade que as demais jamais conhecerão, pois, as ovelhas jamais sentirão falta do que nunca sentiram.
